sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Um Filme ... Parte Final

Já havia duas semanas que eu me alimentava daquelas flores do campo e na manhã de uma segunda feira quente e insuportávelmente interminável esperei que ela saísse para comprar os mantimentos na venda do Sr. Ramirez, fiz minha malas e deixei um bilhete a ela, o que dizia o bilhete não importava, mas foi desesperador deixa-la e necessariamente importante me desapegar dela.
Fui ao galpão que tinha atrás da casa, meu velho Mustang me esperava com seu motor possante, pintura preta e bancos de couro. Abri o porta mala para verificar o que tinha lá e encontrei a minha velha guitarra dentro do "hard case" cheio de adesivos das cidades que passei, guardei meus pertences junto com guitarra e o amplificador peguei a chave do carro no chaveiro que ficava a cima da bancada de ferramentas, sentei ao volante, liguei o carro e sai.
O caminho era longo e os dias seriam longos também, foi o que pensei quando estava pegando a estrada de terra que fazia a ligação do asfalto quente com minha casa. Antes mesmo que eu chegasse a cidade cruzei com ela no caminho, os carros em movimento ainda e os olhos se chocaram de tal forma que os lábios mal conseguiam dizer poucas palavras. Ela sabia que eu não mais voltaria a ser quem eu era e também não voltaria para casa por alguns bons meses e talvez anos.
Por dias eu viajei pensando nela, toquei em alguns bares por míseros trocados e até mesmo por uma refeição, dormi em hotéis de bera de estrada e me deparei com situações de perigo que só uma força maior poderia ter me protegido, mas nenhuma dessas situações foi desesperadora como aqui eu fiquei com o cano de uma pistola calibre 38 encostado na minha testa, aquele italiano filho da puta que disse que era minha vez de morrer, minha sorte foi de estarmos na beira da estrada e na hora o empurrei para o meio da pista quando um caminhão passava, havia tanto sangue que resolvi voltar para casa e nunca mais ter que passar por esse tipo de situação. Eu já havia chegado no outro extremo do país e vi que era hora de voltar, foram dois anos, três meses, cinco dias e dez horas de viagem até eu perceber que tinha que voltar.
Cheguei ao meu rancho, era primavera e as flores do campos que rodeavam a estradinha, a casa ainda estava lá, me esperando e eu nem sabia se estava habitada ainda. A porta da frente estava aberta e um cheiro de café passado na hora estava no ar, ela me olhou e perguntou porque eu demorei tanto para comprar meus cigarros. Fiquei sem reação naquele momento, pois eu estava sendo tratado como rei e passava por minha mente o fato de que ela poderia lembrado que ela me fez esperar oito anos até que nossos caminhos nos cruzassem novamente.
Ela não reclamou e não disse nada sobre o que aconteceu, me tratou livre de qualquer magoa e assim seguiram os anos até termos filhos e fazermos daquela casa um grande celerio de artistas.