domingo, 22 de agosto de 2010

Um Filme...

Ela escuta minha banda preferida e gosta de vinil, deixei meus discos na cabeceira e ela me roubou todos, pegou minhas botas e minha camisa xadrez, entrou no carro e deu a partida no motor. Por alguns segundos acreditei que ela iria embora e deixei que tudo queimasse no fogão ao esperá-la naquela porta de cedro com detalhes de dedos sujos de chocolate. Apaguei meus cigarros de filtro vermelho e acendi uma bala de menta, sentei na escada de frente para o sol exatamente no momento do dia que posso vê-lo ir embora.
Quando vi aquelas marcas de pés descalços na terra percebi o quão longe estava a estrada dos meus olhos. Do asfalto quente ela veio, com minhas botas nos pés sutilmente desdobrou aquelas antigas cartas que descobriu em um fundo falso no chão do quarto vazio, cartas que um dia escrevi quando éramos pequenos demais pra entender essa tal imensidão das palavras até os dias atuais, rigorosamente uma carta por semana. Oitocentos e sessenta e quatro resumos de quais foram os sentidos que minha vida rumou através de todo aquele tempo sem ter.
Veio em minha direção, arrancou minhas roupas, pulou em meus braços e disse tudo que eu queria escutar. Ela nunca me disse nada sobre o seu coração, mas sempre me veio com um sorriso grande no rosto e de olhos brilhantes, me transformando em único e fazendo do momento o melhor de todos já vivido...


(continua...)